sexta-feira, 18 de maio de 2007

Geração Hi5


Os perigos das comunidades virtuais


O Hi5 é uma comunidade virtual que cativa milhares de pessoas. O programa existe desde 2003, serve para criar uma comunidade de amigos, onde podemos colocar fotos e descrever o nosso estilo de vida. Mas porquê que, programas como este tem tanta aderência por parte do público em geral?
Ana Martins, psicóloga, afirma que de um modo geral, «estes programas têm aderência por parte do público porque correspondem a uma necessidade de integração social».
As principais causas da utilização destes programas diferem, relativamente à faixa etária dos utilizadores, assim como, os perigos destas comunidades são também diferentes.
Se pensarmos sobretudo na faixa etária que mais adere a este género de programas, que difere entre os 18 e 25 anos, são indivíduos em que os contactos sociais e a questão da rede social são formas de afirmação, não só pessoal social. «Tanta na adolescência como na idade adulta, o estatuto, a forma como os outros me vêm ganha uma relevância e é absolutamente incontornável sobre o ponto de vista da identidade quase que individual», afirma Ana Martins. «Eu sou tão ou mais pessoa quanto mais pessoas eu tiver na minha lista de contactos e os outros virem que eu tenho mais “pessoal” conhecido», garante a psicóloga.
Quando falamos de crianças com idades entre os 6 e os 12 anos, as questões relativamente ao conceito de grupo são diferentes, pois não tem uma intencionalidade nem um raciocínio consciente, «No caso das crianças tem mais a ver com o facto de comportamentos que eles vêem de pessoas próximas no caso, amigos. Sabe-se que as crianças funcionam muito por imitação, logo se o melhor amigo tem Hi5, ele também quererá e vai pedir aos pais. Funciona mais por imitação de comportamentos e não pelas mesmas razões apontadas para os adolescentes.»
Segundo a psicóloga os pais e educadores não devem ficar preocupados com o facto dos seus filhos serem utilizadores destes programas pois «o Hi5 em si não tem qualquer tipo de malefício, a utilização que as pessoas fazem dele, isso sim, pode ser prejudicial», comenta Ana Martins.
Os jogos violentos, a Internet e programas deste género não possuem malefícios, as crianças podem é retirar e interpretar a mensagem não da forma que ela deveria passar. «Os pais devem ser pais presentes na educação dos filhos, de forma a lhes poderem explicar e descodificar a mensagem trazida por este tipo de programas». Ana Martins chega mesmo a dar um exemplo acessível a todos, de forma a se perceber a ideia que quer transmitir «se recebermos uma mensagem para fazer o download de um toque, deveremos explicar à criança, que se mais dez pessoas receberem a mesma mensagem, estamos a contribuir financeiramente para algo».
Preocuparmo-nos com o facto de, uma criança ser utilizadora do Hi5 porque quer conhecer gente mais velha, ir “engatar”, ou fazer-se passar por quem não é, isso sim preocupa a psicóloga. “ É importante que os pais expliquem à criança como funciona o programa, para que estes não o utilizem de forma inadequada. No entanto os pais não se devem substituir à aprendizagem dos filhos, mas sim, ajuda-los a desenvolver o sentido crítico e descodificação das mensagens”, revela preocupada Ana Martins.

Opiniões

O público em geral, conhece bem este tipo de programa, e a maior parte deles possui Hi5.
As razões apontadas para a utilização destes programas variam conforme as idades dos indivíduos. Utilizam Hi5 apenas para ver fotos de pessoas, quer sejam elas conhecidas ou não, tem Hi5 porque gostam de manter o contacto com os amigos e fazer novas amizades, tal como afirmou Isabel Cunha de 12 anos, «gosto de conhecer pessoas novas».
No entanto, a preocupação evidente por parte de todos está relacionada com a demasiada exposição que os indivíduos fazem dentro do programa.
Elias Machado, um jovem estudante de arquitectura, possui uma posição em relação ao Hi5, «a utilidade do programa prende-se com a capacidade de estimular uma sociedade a consumir diariamente alguns minutos de Internet conectando-se a algumas centenas de conhecidos e desconhecidos que se expõem a olhares curiosos. Eu próprio me exponho, não por vaidade mas porque me agrada a ideia de uma sociedade que se conhece virtualmente antes de se conhecer fisicamente e vice-versa».
Quando os utilizadores são menores, Elias defende que «o confronto com a nudez não é mau e se o é será apenas por uma questão de preconceito. A opção de desligar e participar é sempre nossa», afirma.
Ainda em relação às crianças afirma que é preocupante a exposição que os pais fazem delas na Internet, «é realmente perigoso a exposição de crianças pois os pais não tem informação suficiente acerca dos "mundos" que o hi5 contem. Eles não se apercebem porque também não dão muita importância». Elias Machado reforça ainda o papel dos pais na educação de uma criança «os pais não conhecem a realidade do Hi5 porque não tem tempo para pesquisar», facto que preocupa bastante o jovem.
Isabel Cunha afirma que «muitas vezes a minha mãe não gosta que utilize o Hi5, porque posso falar com pessoas mais velhas, que podem não ser amigáveis». No entanto Isabel defende que «quando são pessoas mais velhas a querer ser meus amigos, não aceito o convite».


Paula Dias tem uma filha de 8 anos que começou este ano a “navegar” no mundo cibernauta. Para ela «é bom que as crianças tenham acesso a um computador, porque agora nada se faz computador».
A preocupação é diferente quando se questiona se a filha poderá utilizar computador para aceder a programas como o Hi5 «tenho conhecimento deste programa porque o meu irmão tem. Agora lá em casa não temos Internet mas a escola da minha filha tem, embora não tenha conhecimento se usam este programa». Paula Dias afirma ainda que «o programa é mau se as pessoas colocarem lá algo menos próprio para as crianças, corremos o risco de elas não interpretarem correctamente o que estão a ver». «A Internet tem de tudo, pessoas que nos querem fazer mal e bem, uma criança muitas vezes ainda não sabe distinguir o bom do mau», acrescenta Paula.

Elias Machado alerta também para a existência de profiles que possuem fotos de crianças «Tenho conhecimento de alguns de crianças com menos de dois anos, que ainda nem sabem que existem. Têm pais maravilhosos que os expõem num mundo virtual onde não existem filtros capazes de impedir a maldade. E mais, como se não bastasse o terrível facto de colocarem a público a vida da criança, ainda dão informações detalhadas dos dados da criança. Que pais orgulhosos e babados e ao mesmo tempo inconscientes, ao não perceberem que o hi5 é público e que à página das crianças têm acesso não só boas pessoas e amigos, mas também hediondas mentes com más intenções», «No mundo virtual, que se estende em todas as direcções do planeta, reina a promiscuidade, gente que não é mais do que um rosto e um órgão sexual. E não vê só quem quer, vêem todos», afirma preocupado Elias.
João Teodósio, estudante, também se mostra indignado com o facto das crianças terem Hi5 e poderem ver fotos “pouco apropriadas para a idade”. «Preocupa-me que as crianças vejam coisas que não são para as suas idades, como fotos de nudez, que são muito comuns neste tipo de programas», afirma preocupado. João não se mostra minimamente curioso com este tipo de comunidades porque, tal como nos contou «soube da existência do Hi5 pela minha irmã e quando percebi o seu funcionamento não me interessou minimamente. Ver fotos de outras pessoas e saber das suas vidas é coisa que não me desperta qualquer tipo de curiosidade», justifica João.
Mas nem tudo é mau no que toca a comunidades virtuais. Para João Pereira o Hi5 é «uma espécie d big brother em que todos conhecem as vidas uns dos outros e querem mostrar tudo sobre as suas vidas. O mais engraçado é que, percebemos que não é só o povo português que tem o fascínio pela intimidade alheia, afinal esse fascínio é mundial», afirma em tom de brincadeira.

Elias Machado acredita que «ainda existem pessoas capazes de transmitirem nesse pequeno espaço que é o hi5 um pouco da graça que contêm. E essas valem a pena serem visitadas de vez em quando», afirma.
A realidade é que programas como estes possuem uma base de dados bastante completa, onde podemos encontrar pessoas que não vemos há muito tempo e isso sim é de aproveitar em comunidades deste género que cada vez mais ganham tanta importância no mundo em que vivemos.





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